Obrigado, Senhor, pela minha escola!
Ela tem muitos defeitos. Como todas as escolas têm.
Ela tem problemas, e sempre terá. Quando alguns são solucionados, surgem
outros, e a cada dia aparece uma nova preocupação.
Neste espaço sagrado, convivem pessoas muito
diferentes. Os estudantes vêm de famílias diversas e carregam com eles sonhos e
traumas próprios. Alguns são mais fechados. Outros gostam de aparecer. Todos
são carentes. Carecem de atenção, de cuidado, de ternura.
Os professores são também diferentes. Há alguns bem
jovens. Outros mais velhos. Falam coisas diferentes. Olham o mundo cada um à
sua maneira. Alguns sabem o poder que têm. Outros parecem não se preocupar com
isso. Não sabem que são líderes. São referenciais. Ou deveriam ser.
Funcionários. Pessoas tão queridas, que ouvem nossas
lamentações. E que cuidam de nós. Estamos juntos todos os dias. Há dias mais
quentes e outros mais frios. Há dias mais tranquilos e outros mais tumultuados.
Há dias mais felizes e outros mais dolorosos. Mas estamos juntos.
E o que há de mais lindo em minha escola é que ela é
acolhedora. É como se fosse uma grande mãe que nos abraçasse para nos liberar
somente no dia em que estivéssemos preparados para voar. É isso. Ela nos ensina
nossa vocação. O voo. Nascemos para voar, mas precisamos saber disso. E
precisamos, ainda, de um impulso que nos lance para esse elevado destino.
Não precisamos de uma escola que nos traga todas as
informações. O mundo já cumpre esse papel. Não precisamos de uma escola que nos
transforme em máquinas, todas iguais. Não. Seria um crime reduzir o gigante que
reside em nosso interior. Seria um crime esperar que o voo fosse sempre do
mesmo tamanho, da mesma velocidade ou na mesma altura.
Minha escola é acolhedora. Nela vou permitindo que a
semente se transforme em planta, em flor. Ou permitindo que a lagarta venha a
se tornar borboleta. E sei que para isso não preciso de pressa. Se quiserem
ajudar a lagarta a sair do casulo, talvez ela nunca tenha a chance de voar.
Pode ser que ela ainda não esteja pronta.
Minha escola é acolhedora. Sei que não apreenderei
tudo aqui. A vida é um constante aprendizado. Mas sei também que aqui sou
feliz. Conheço cada canto desse espaço. As cores da parede. Os quadros. A quadra.
A sala do diretor. A secretaria. A biblioteca. Já mudei de sala muitas vezes.
Fui crescendo aqui. Conheço tudo. Passo tanto tempo neste lugar. Mas conheço
mais. Conheço as pessoas. E cada uma delas se fez importante na minha vida. Na
nossa vida.
E, nessa oração, eu Te peço, Senhor, por todos nós
que aqui convivemos. Por esse espaço sagrado em que vamos nascendo a cada dia.
Nascimento: a linda lição de Sócrates sobre a função de sua mãe, parteira. A
parteira que não faz a criança porque ela já está pronta. A parteira que apenas
ajuda a criança a vir ao mundo. E faz isso tantas vezes. E em todas as vezes
fica feliz, porque cada nova vida é única e merece todo o cuidado.
Obrigado, Senhor, pela minha escola! Por tudo o que
de nós nasceu e nasce nesse espaço. Aqui, posso te dizer que sou feliz. E isso
é o mais importante. Amém!
Gabriel Chalita
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